sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cúpula dos Povos


Não posso deixar de sentir alguma emoção ao ler esta entrevista.

Quando comecei a minha actividade no ambientalismo, na ADAPA, uma ONGA local, recentemente fundada, em 1990, estávamos na preparação da Cimeira do Rio. A noção que tínhamos da importância do evento e da dinâmica da sociedade civil mundial, ou mesmo das suas possíveis consequências era muito reduzida.

Participámos com a CPADA, tendo o GEOTA como grande mentor, numa tenda multiusos em Belém.
Marcámos com cal um grande campo nos relvados.

Lá, fizemos actividades para alunos do ensino básico chamados jogos ecológicos. Eram principalmente actividades de equipa e de cooperação, onde a temática ambiental era introduzida em jogos tradicionais: futebol humano, corrida de 3 pernas, jogo da reciclagem e muitos outros. À noite e fins de semana decorriam debates, espectáculos. Foram exibidas várias exposições permanentes. Participaram várias centenas, senão milhares de pessoas. Muitos jovens de corpo, alguns jovens de espírito.

Para os jornalistas tudo era novidade. O "ambiente" era algo de muito novo e todo o ambiente de festa era contagiante. O conceito de "Desenvolvimento Sustentável", tão usado e abusado nos dias de hoje, era algo muito desconhecido do grande público.

A ECO'92, todo o mediatismo que obteve, marcou, durante muitos anos, a percepção que o público tinha sobre as causas e as ONGA. Ainda hoje estamos a sentir o efeito da passagem dessas ondas disruptivas do paradigma social dominante.

Os mais "velhos" nas ONGA activas na altura lembram-se, certamente, desses tempos, talvez com a mesma melancolia. Eram tempos em que a luta trazia resultados efectivos. Agora é tudo mais complicado, mais instituições, mais conhecimento acumulado, tudo mais com menos recursos.

Claro que as ONGA continuam a ter razão à posteriori, mas parece que se aprendeu muito pouco e que a ganância corporativa é o paradigma social dominante, como se o que se fizesse não tivesse consequências, como se as sucessivas bolhas inflacionistas de um mercado desregulado e sem controlo não impliquem directamente com a vida de milhares de milhões....

20 anos depois, está tudo a passar um pouco despercebido, entre o ruído de fundo dos vendedores de pessimismo. Mas no Brasil e em todo o mundo há ONG atentas e que se estão a preparar.

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